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Monitor do Mercado | Thiago de Souza | 21/07/2025
Com a entrada em vigor da Reforma Tributária a partir de 2026, 7 em cada 10 empresas poderão perder dinheiro, é o que revela um levantamento da consultoria ASIS Tax Tech. A estimativa é baseada em simulações com dados reais extraídos do SPED (Sistema Público de Escrituração Digital).
Segundo a empresa, a transição para o novo modelo, que unificará tributos como PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS na forma de um IVA (Imposto sobre Valor Adicionado), exigirá mudanças profundas nas estratégias fiscais e operacionais das companhias.
De acordo com o CEO da ASIS, Ulisses Brondi, as perdas financeiras de cerca de 70% das empresas analisadas serão inevitáveis se elas não adaptarem sua estrutura tributária com antecedência.
“As empresas que esperarem pela vigência da nova regra para se adaptarem estarão mais expostas a autuações, perdas de crédito tributário e problemas de fluxo de caixa”, afirma Brondi.
O novo sistema exigirá que as empresas revisem pontos como:
Guilherme Manier, sócio da área tributária do Viseu Advogados, afirma que o modelo híbrido de apuração para empresas do Simples — em que o CBS e IBS podem ser apurados “por fora” ou “por dentro” do DAS — trará impactos distintos para quem compra produtos ou serviços dessas empresas. “É essencial saber se o crédito será integral, parcial ou inexistente”, explica.
A nova sistemática do split payment — em que parte do tributo será retida no pagamento ao fornecedor e enviada diretamente ao Fisco — também preocupa. O tomador do serviço pode não conseguir aproveitar o crédito se o fornecedor não cumprir com suas obrigações tributárias no prazo.
“Empresas já começaram a cadastrar e classificar seus fornecedores com base em critérios de compliance fiscal”, diz Manier.
Para o advogado Júlio César Soares, especialista em direito tributário e sócio da Advocacia Dias de Souza, a mudança representa uma transformação estrutural no sistema fiscal. “A substituição de tributos pelo modelo de IVA exige um salto de maturidade das empresas na gestão tributária”, afirma.
Ele reforça que o risco de perdas decorre principalmente da falta de preparo das empresas para lidar com o novo regime de créditos, a eliminação de incentivos regionais e a necessidade de reestruturar operações.
Para o advogado Eduardo Diamantino, sócio do Diamantino Advogados Associados, a transição para o novo sistema tributário virá acompanhada de aumento de burocracia e custo para os contribuintes. “Haverá um custo extra de adaptação, além de erros de apuração que serão atribuídos às empresas”, afirma.
Ele também chama atenção para setores como o agronegócio. Produtores rurais com receita anual acima de R$ 3,6 milhões terão que adotar o mesmo modelo de apuração das empresas, o que pode aumentar a carga tributária e dificultar a gestão.
André Gimenez, sócio do Simões Pires, avalia que a nova estrutura penaliza especialmente o setor de serviços. “A alíquota do IVA será elevada, o que se refletirá em preços maiores para o consumidor final”, afirma.
Segundo ele, a promessa de desoneração não se confirmou, e o sistema deve continuar onerando o consumo.
A reforma prevê uma transição longa, com vigência plena apenas em 2033. Fábio Lunardini, tributarista do escritório Peixoto & Cury Advogados, lembra que os impactos serão sentidos aos poucos, mas exigirão atenção constante. “Boa parte da adaptação será feita na base da tentativa e erro”, afirma.
Segundo os tributaristas, a transição envolverá o uso simultâneo de dois sistemas: o atual e o novo. Isso exigirá investimentos em tecnologia, capacitação de equipes e revisão completa dos processos fiscais.